quinta-feira, 29 de abril de 2010


Para iniciar a série de entrevistas pretendidas com os produtores e artistas audiovisuais na cidade do Rio Grande, começo com o amigo e colega das Artes Visuais Fernando Theodósio, mais conhecido no meio cultural como Badu. Bom, sem mais delongas segue a entrevista com esse cara irreverente, multimídia e inesperado.





O.S.: Como ocorreu o teu contato com o audiovisual?


Badu: Foi por volta de 2001 , quando eu pegava a câmera do meu pai, e saía filmando os meus amigos bebendo e fazendo bobagens. Depois nos reuníamos e dávamos risadas das bobagens que a gente fazia. Com o tempo os amigos sabiam que eu tinha uma câmera e me chamavam pra fazer registros dos mais variados, primeiro fui câmera de uma banda chamada Hype!Machine, onde eu gravava ensaios, shows, etc. Mais tarde também fez um clipe para a banda Roots Blues. Participei de dois projetos, um da FURG, produzindo um documentário sobre a morte, depois produzi um documentário com minha amiga Lisandra Files Dias (com quem produzi muitos dos meus vídeos) sobre a ilha dos marinheiros, mas este trabalho acabou ficando na gaveta. Fui fazendo várias coisas, como gravar uma aula sobre gravura do professor J. Flores, gravei também performances e ensaios do meu amigo Cid Branco (Tropeço). Tenho feito várias experimentações em vídeo, desde curta-metragem a vídeo arte. A verdade é que eu sempre tive o interesse em guardar esses registros visuais, eu sou muito apegado ao visual, ele é mais eficiente em me trazer memórias do passado do que apenas ler um texto. Minha juventude foi durante os anos 80, onde a linguagem audiovisual estava em alta, tudo era audiovisual, eu ficava maravilhado com os programas de televisão com aquelas cores berrantes, muitas edições psicodélicas, efeitos especiais, animações, videoclipes, e eu tinha interesse em participar e produzir aquilo tudo, e quanto mais se observa, mais se aprende sobre aquilo. Então quando tive a oportunidade de filmar, editar, reproduzir, pensei em utilizar todos os efeitos que eu conhecia e desconhecia. E é claro que a internet me ajudou muito. Hoje é muito fácil achar tutoriais, dicas, aulas sobre vídeo, hoje tu coloca no google “vídeo arte” e aparece uma infinidade de vídeos, inclusive sendo possível ver coisas das décadas de 60, até mesmo os filmes do Méliès e dos irmãos Lumière. Acho que uma pessoa que tem a possibilidade de ter todo esse conteúdo na mão tem também a possibilidade de produzir algo... e é isso que eu faço.




O.S.: Quais os artistas que consideras possuir uma produção importante dentro do audiovisual?


Badu: Tem uma lista muito grande de pessoas que eu considero importantes para o audiovisual. Mas tem um cara que eu gosto muito, e que não é conhecido ainda pelo mainstream, o nome da figura é Petter Baiestorf, pra quem gosta de filmes underground, esse é o cara ideal pra nos inspirar a produzir qualquer coisa. Ele tem um discurso muito interessante a respeito de produção com baixo orçamento, ou nenhum orçamento, é muito incentivador, recomendo. Procurem no google ai, vão achar muitas coisas sobre ele.


O.S.: Como surgem as tuas idéias para um videoarte?


Badu: Como eu to sempre vendo vídeos, minhas idéias não são muito renovadoras ou muito diferentes do que se vê por ai. Às vezes tiro uma idéia de uma cena de filme, às vezes de um vídeo arte, às vezes de uma propaganda de televisão, até musicas já foram base de inspiração. Mas os meus melhores (eu acho) vídeos se deram através da performance de quem estava sendo filmado, depois eu só tive o trabalho de fazer uns efeitos na hora da edição. Mas às vezes a inspiração surge na hora de editar. Quando filmo penso de uma forma, mas quando edito vejo uma imensa possibilidade de efeitos, cortes, filtros, que acabam surgindo outras idéias.




O.S.: Com relação à internet, até que ponto um vídeo artista pode conquistar notoriedade valendo-se da grande rede como ponto de divulgação e disseminação de sua produção?


Badu: A internet é o melhor meio de divulgação e disseminação que o artista tem. Hoje existem mais pessoas na internet do que indo a galerias, mostras de vídeo, etc, lugares onde até certo ponto estão os “artistas reconhecidos” por um curador. Na internet não precisa de um curador pra expor o teu trabalho em algum lugar. Pode-se fazer, desde, um site falando do teu trabalho á spam de e-mail com as obras anexadas. Mas a notoriedade depende muito do que as pessoas querem consumir ou são forçadas a consumir no momento.




O.S.: E como acreditas ser possível um vídeo artista mostrar a potência do seu trabalho na grande rede (como, por exemplo, o vídeo Tapa na Pantera, de Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes.) em meio a tantos outros materiais audiovisual de amadores, ou ainda os considerados “lixo eletrônico”?


Badu: Bom... como muita gente está produzindo audiovisual, fica difícil mesmo, tu deu um ótimo exemplo, pois este trabalho profissional que parece amador, confunde a cabeça do expectador. Acho que ele foi precursor no sentido de que um vídeo “amador” faria sucesso em termos de “visibilidade”, todo mundo viu, todo mundo comentou. Existem milhares de pessoas fazendo vídeo, querendo fama, ou apenas para expor algo. Um exemplo de um vídeo amador que teve bastante visibilidade é “A triste história de dentinho” (http://www.youtube.com/watch?v=dObN6kk2wRY). O cara até participou por um tempo do programa Pânico na TV. Existe “lixo eletrônico” que pode e são aproveitados. Um exemplo de uma possível “reciclagem” é o caso do vídeo “Pedro cadê meu chip?” (http://www.youtube.com/watch?v=EWC_B1u0hBE), seria muito bem aproveitado em alguma propaganda de telefônica celular, ou até mesmo servir como critica contra o consumismo, pois a mulher grita desesperadamente durante um bom tempo reivindicando um bem material(seu chip). Basta saber ver, uma pessoa pode olhar um vídeo arte e achar um lixo. Mas como falei antes, depende muito do que as pessoas querem consumir, se for bom, ele vai ser divulgado através do próprio consumidor.



O.S.: Atualmente o que tens produzido em videoarte?


Badu: Ultimamente não tenho produzido nada. Acho que já faz uns 2 anos que não faço nada. As últimas coisas que fiz, foram uns testes de sobreposição e dois curtinhas de stop-motion. Ando muito desmotivado. Há um tempo atrás eu tinha uma “cobaia” (Lisandra) que topava fazer uns experimentos em vídeo arte (risos). É que não consigo pensar vídeo arte me filmando, eu como o personagem.



Algumas produções do Fernando podem ser vistas nos links a seguir:


http://www.lovemissile.50g.com


http://www.olhares.com/abadaue

http://www.youtube.com/abadaue1